quarta-feira

Eu estava ali.


Eu estava ali.

Desci dois degraus, e ainda estava próxima ao teto. Sentei, porque a escada me fazia companhia, coloquei as mãos no bolso, e ainda tinha um maço de cigarro, abri, os olhos quase adormentados e o coração ainda batia forte. Tem ainda um! O isqueiro? A minha própria mente, era o fogo que acendia aquele cigarro. A fumaça, voava e saia pela pequena janela que havia a minha frente. Aquela mesma janela, mostrava que a lua ainda brilhava. Nos meus olhos, aquela coisa de criança, de olhar para lua e achar que estava tão perto de mim.
Peguei o celular, mas não liguei pra ninguém, muito pelo contrario, eu o desliguei. Passos lentos. Mas sobe ou desce? Se sobe penso que não desce, porque era tão frio, os passos eram tão quentes, mole, estranho, sabe? Um passo dois silêncios, três passos, uma pausa, quatro e cinco de uma vez. Mas essa pessoa bebeu hein!
Eu obtive uma descoberta, este edifício tem quatro andares, se já subiu esses degraus, e o eco chega a mim, então è porque sobe. Arrumei o vestido com as pontas dos dedos. Sujei um pouco de Whisky durante o percurso até o lugar onde estava. Eu não cai tanto assim, foram dois passos sem silencio, no quarto a cara no chão. Coisas naturais, que machucam, mas depois você nem sente. Ah sim. Os passos, lembrei.
Eu não estava assustada, eu estava preparada isso sim. Se era homem eu queria ver toda a fisionomia, mesmo assim no escuro. Se era mulher, a gente bebia uma tequila. E se era uma senhora? Alias, onde estou?
Ai - sem interrupções - a sombra em mim. Que medo, desconheço! Era tão misteriosa, que até esqueci o cigarro cair. "Oi" Oi? Mas como Oi? Não te conheço.
Os olhos que este homem tinha era uma coisa de admirar-se, mas também só os olhos, porque o coração a gente não sente nessas horas. Por um momento de segurança coloquei a garrafinha de cerveja do meu lado, qualquer coisa, sao vidros quebrados.
Mas não precisava disso. Ele não aguentava com o corpo que rastejava no muro, então nem posso imaginar algo do genero. Mas, o pessimismo faz parte do pânico - quem disse? Ah, eu não sei.
Então veio os embrulhos no estômago, não sabia se era frio ou fome. E este ainda, senta do meu lado e me pede um "gole" da minha cerveja. Ja era pequena, mas com ele foi mais divertido.
Além dos olhos o sorriso também atraia a minha euforia alcoólica. Os seus traços juntava-se com os meus,e quando era para abaixar, abaixávamos juntos de mãos dadas e tornávamos como dois loucos perdidos no nada.
Sabe, ele me beijou! Mas não era beijo de menino. Suas mãos eram assim pesadas, como a de um homem, tinha até pelos no rosto. Passei meus dedos em sua nuca e senti todo o arrepio ultrapassar o seu corpo, conectando com os meus.
Daquela noite eu lembro disso. No final, foram passos, de quem desce, disso eu sei. Um dois e mais três, depois foram quatro e cinco e o seis. E os outros, isso eu já nem sei.
Continuei ali - sem fôlego e sem palavras - mas também se havia, não havia ninguém ali que eu poderia falar. Eu me ergui, tentei o um dois e três, e já estava no décimo quinto, correndo a saída daquele edifício. Os meus pés não eram descalços, mas o chão batia forte nos meus dedos, que parecia cada vez mais difícil correr e me perder na manha que começava, na cidade dos meus sonhos, e nos meus pesadelos que transforma esses sonhos em gargalhadas imortais.

Victoria Veronezzi