Difícil seria analisar a linha da minha vida, e não perceber as maiores mudanças que obtive com a minha transição.
Quando resolvemos "mudar", termo usado para reflexão e compreensão do meu eu interior, resolvemos procurar as medidas mais faceis, que brevemente torna-se uma das mais complicadas em nossas vidas.
E difícil compreender a vida, se não vivemos ela da maneira mais apropriada, mais precisa.
Quando tinha meu aspecto masculino, obviamente, as coisas eram mais faceis, porém sempre complicado. Não escondia os meus medos, que naquele tempo eram maiores, não escondia a minha esperança também, era um pequeno leão procurando gritar neste grande crescimento que a vida me trouxe.
Tive vários exemplos bons e ruins, conheci as duas oportunidades da vida. A de lutar sendo eu, e a de lutar sendo aquilo que a sociedade impôs como "certo".
Depois da minha transição MtF, muitas coisas realmente mudaram. Tanto no aspecto positivo (espiritual) quanto no aspecto negativo (sociedade).
Hoje sou feliz por ter e representar aquilo que sou, e não esconder o meu género, de fazer parte do mundo da maneira que sempre quis assumir desde pequena.
Para os meus familiares, digo alguns, ainda é o novo em processo de habitualizaçao. E' o novo entrando nesta geração familiar, por isso dou ênfase nas minhas melhores capacidades de mostrar a todos eles, que o meu género, é algo tão normal quanto o deles.
Lutar sozinha é triste, mas hoje em dia, não lutamos nunca sozinhas.
Vim de uma geração já modernizada e que já estava acordando para a realidade mais humana que o mundo pode ter.
Nasci em 1990 e isso foi muito significativo pra mim. Tive o apoio dos meus pais e no começo respeito de todos os membros da minha família. Mas isso não me bastava.
Sabia que a minha luta, não era uma luta igual para eles. Minha mãe sempre me dizia que a minha luta seria muito individual, e realmente foi.
Consegui progredir todos estes anos de uma maneira formidável.
Conheci estradas na vida que não me pertenciam, não faziam parte deste carma que luto todos os dias para estar equilibrado.
Procurei todas as formas de felicidade, e um dia eu encontrei.
Não sei se fiquei mais louca, ou se meus pensamentos começaram a serem mais organizados em todos os modos. As minhas reivindicações foram sempre extremas, e as minhas verdades ditas foram sempre muito pensadas e analisadas antes de serem proferidas.
Tenho prazer imenso de ter mergulhado no mundo da literatura, e de ter conhecido através das fantasias e realidades literárias personagens que me faziam sentir um estado de paz imenso.
Comparando a minha adolescência no aspecto "masculino", acho que o preconceito era muito maior, em relação a passeios, e estar entre as pessoas. Porque era aquele tipo de menino "efeminado", o sentido mais debochante para a sociedade em si.
Agora, na minha transição plena como mulher, sinto que minha alma começa a florescer cada vez mais. Mas ainda pede muito cuidado em todos os meus passos.
Quando nascemos mulheres em um corpo diferente, começamos uma guerra sem fim.
Depois que nos tornamos mulheres, ou seja, transportamos a nossa alma para o nosso físico, temos varias outras batalhas a serem conquistadas, a guerra não acaba ali.
Uma satisfação imensa, obviamente, cobre todos os poros que temos, todas as partes do nosso corpo e para muitas (assim como eu) torna-se uma força maior para uma visibilidade.
Porque sabemos quem somos, sabemos de onde viemos, e sabemos onde nos queremos chegar.
A vida é um preludio todos os dias, e a coragem e a esperança fazem parte de nossas vidas, dia após dia.
Não digo isso, individualizando nos brasileiras. a nossa luta é mundial.
Assim como estamos lutando aqui, existem muitas outras lutando por todo o mundo.
Vicktoria Veronezzi.